Por que e como escrevi “Predestinado: A vida do craque Müller”

Por Anderson Olivieri

Meus heróis de infância nunca foram os poderosos da Marvel ou da DC Comics. Eu ignorava esse universo das histórias em quadrinhos e procurava-os no futebol. E os encontrava em Maradona, Van Basten, Careca, Romário… e principalmente Müller, atacante que me impressionava pela velocidade, habilidade e desconfio que por seu nome diferente, meio sofisticado.

Pois bem, este é o primeiro motivo que explica o porquê deste Predestinado: A vida do craque Müller (Vitalia, 2022): apego infantil.

Esse sentimento se conservou na adolescência, com especial fixação em 1998, ano em que efetivamente Predestinado: A vida do craque Müller começou a ser escrito – ou desenhado. As pessoas se espantam quando digo isso. Mas é verdade. Em de junho de 1998, enquanto os brasileiros prestavam atenção na seleção brasileira na Copa do Mundo da França, eu me inquietava por algo que ocorria em Belo Horizonte. Cogitava-se, naqueles dias, a saída de Müller do Santos para o meu Cruzeiro.

Em 25 de junho de 1998, ao anúncio de que o atacante assinara contrato com o Cruzeiro, declarei que não queria mais nada – dispensava o pentacampeonato da seleção. A contratação do maior atacante em atividade no futebol brasileiro me bastava.

E esta biografia começou ali porque passei então a juntar recortes de jornais e revistas sobre a passagem do jogador pelo Cruzeiro, que durou até 2001.

Depois disso, segui interessado no noticiário sobre o Müller, que oscilava entre recordações de glórias e derrapadas do cotidiano. Até que veio, em maio de 2011, a reportagem bombástica de Gudryan Neufert, para o Esporte Fantástico, da Record, em que Müller admitia-se falido. Percebi haver ali um personagem e tanto.

Nessa época, eu já estava hipnotizado pelo gênero das biografias. Tanto quanto lê-las, adorava buscar entender o complexo processo de fazê-las. Pensei que talvez Müller fosse o nome ideal para inaugurar minha intenção de biógrafo. Marcada de glórias e desfortunas, a história do camisa 7 valia livro. Maturei então a ideia e, em dezembro de 2015, decidi apurar a fundo a vida de Müller.

Comecei com o compulsivo esquadrinhamento da carreira do jogador em jornais e revistas. Li todas as edições da revista Placar e do jornal Folha de S.Paulo publicados entre 15 de novembro de 1984, data da estreia de Müller no profissional do São Paulo, e 25 de fevereiro de 2005, quando ele se retirou dos campos.

Os arquivos do Jornal do Brasil, O Globo, Estado de Minas, Estado de S. Paulo e dos italianos La Stampa e Tuttosport também foram vasculhados. O mesmo ocorreu com diversas outras publicações, de variados veículos, que traziam revelações sobre o craque.

Passado esse garimpo de notícias, aprontei-me para a fase de entrevistas. Porém, sem recurso para viajar às cidades essenciais do projeto, tive de recorrer a um crowdfunding, sistema de financiamento coletivo. Mais de uma centena de pessoas contribuíram, permitindo-me custear o seguinte périplo: São Paulo – Rio de Janeiro – Campo Grande – Turim – Milão – Belo Horizonte – São Paulo.

Nesses lugares, entrevistei diversas pessoas, entre familiares, amigos e ex-colegas de profissão. Andei pelo bairro natal de Müller, em Campo Grande; passei tardes em bate-papos com amigos de infância; fui à escola onde ele estudou; visitei o local em que deu seus primeiros chutes pelo Operário-MS, enfim, gastei muita sola de sapato e saliva em busca de histórias do craque.

O mesmo trabalho de campo feito na capital sul-mato-grossense repeti nas demais cidades por onde passei. Em Turim, por exemplo, conheci duas das quatro casas em que Müller morou, além de ter visitado centro de treinamento e estádio do Torino. Já em Milão, fui ter com Franco Baresi na sede do Milan e estive na casa de Paolo Maldini para ouvir deles, adversários frequentes de Müller, como era tê-lo como oponente.

 Ao todo, para o livro, foram ouvidas 120 pessoas, algumas delas mais de uma vez. Trabalhei por mais de dois anos no texto de Predestinado: A vida do craque Müller. Todo esforço restou recompensado nesta obra de 548 páginas que nasce, assim como Müller, de 1966, em ano de Copa do Mundo, torneio três vezes disputado por ele.

E antes mesmo de as prateleiras das livrarias receberem Predestinado: A vida do craque Müller, o que começará a acontecer nesta semana, tenho orgulho em dizer que já apareceram elogios de gente sofisticada das letras, o que me envaidece.

Para Mário Magalhães, biógrafo premiado, constitui-se, o meu livro, um dos melhores sobre futebol já escritos no Brasil. Juca Kfouri considera que escrevi um livro “de excelência”, e Mauro Beting chama-o de “obra-prima”.

O reconhecimento desses especialistas em relação à qualidade do livro é a prova de que não cedi ao ímpeto de canonização de Müller, pautando-me por revelar um biografado de carne e osso, com contradições típicas do ser humano e marcado por glórias e fracassos, fortuna e escassez, alegrias e tristezas.

Ficou curioso nesta leitura? É só adquirir agora mesmo, aqui, o seu Predestinado: A vida do craque Müller.

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