Conheça o ghostwriter por trás do livro de memórias do príncipe Harry

O livro de memórias do Harry, Spare, lançado no décimo dia de 2023, ultrapassou os 400 mil exemplares comercializados no primeiro dia de vendas no Reino Unido. A publicação ocorreu simultaneamente em 16 línguas do mundo todo. Aqui no Brasil, o selo Objetiva, do grupo Companhia das Letras, foi o responsável por editar a obra, abrasileirada no título para O que sobra.

A euforia mundial causada pelo livro tem um porquê: o príncipe que abandonou os deveres reais em 2020, após se casar com a atriz Meghan, duquesa de Sussex, revelou em suas memórias fatos íntimos da sua vida e da corte britânica. Há quem diga, inclusive, entre especialistas da monarquia, que o conteúdo da obra torna impossível a reconciliação entre os irmãos William e Harry.

Mas para além do conteúdo bombástico, há algo em O que sobra que nem todo leitor sabe: o texto não é de Harry. Por trás da elogiada narrativa, concisa, fluida, está um nome de peso dos universos literário e jornalístico. É J. R. Moehring, vencedor do prêmio Pulitzer em 2000.

Nascido em Nova Iorque em dezembro de 1964 , John Joseph Moehringer é filho de um famoso DJ da cena nova-iorquina nos primeiros tempos da rádio FM que abandonou a família quando Moehringer tinha poucos meses de idade. Criado em Long Island pela mãe solteira, uma hospedeira de bordo, o futuro ‘ghost-writer’ encontrou no tio Charlie um substituto para o pai.

Essa história está relatada em detalhes na autobiografia do escritor, The Tender Bar (2005), que inspirou filme com o mesmo nome produzido por George Clooney em 2021 e disponibilizado na Amazon Prime em 2022. O elenco da longa-metragem incluiu atores como Christopher Lloyd e Ben Affleck, no papel do tio Charlie.

Mas foi em meados dos anos 2000 que J. R. Moehring, já consagrado escritor e jornalista, se revelou um excelente ghostwriter. Ele foi convidado pelo ex-tenista Andre Agassi, que havia lido The Tender Bar, para escrever a autobiografia do jogador – parceria que rendeu em 2009 o premiado livro Open: An Autobiography (no Brasil, Agassi: Uma autobiografia, Intrínseca, 2019).

Depois da experiência com o ex-tenista, Moehring colaborou em Shoe dog, autobiografia do fundador da Nike, Phil Knight, lançada em 2018 (no Brasil, A marca da vitória, Sextante, 2016).

Embora premiado nas duas atividades – a de escritor fantasma e a de autor de autobiografia -, J. R. Moehring, após o livro de Agassi, declarou que escrever um livro para outra pessoa, ou seja, como ghostwriter, é uma experiência completamente diferente de escrever uma autobiografia.

“Você tenta habitar a pele deles, e mesmo que você esteja pensando em terceira pessoa, você está escrevendo em primeira pessoa, então os processos são imagens espelhadas um do outro, mas eles parecem muito simpáticos”, disse o escritor.

Para habitar a pele do príncipe Harry, especula-se, em sites americanos, que J. R. Moehringer tenha recebido perto de um milhão de euros.

Nada mal para quem definiu ghostwriter como “a parteira não vai para casa com o bebê”.

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